Livro
Biografia autorizada refaz trajetória da dupla Kleiton & Kledir
Obra foi lançada na noite desta segunda-feira (27), no Mercado Central de Pelotas
Carlos Queiroz - DP - Dupla autorizou a obra e contribuiu com depoimentos exclusivos
Donos de sucessos nacionais e com uma trajetória musical que se mescla à história da Música Popular Gaúcha, os irmãos pelotenses Kleiton e Kledir Alves Ramil são o foco de um livro que refaz os passos dessa trajetória de sucesso. Kleiton & Kledir, a biografia, escrita pelo jornalista Emílio Pacheco, teve lançamento oficial em Pelotas, na noite de segunda-feira (27), no Mercado Central.
Num projeto ousado, Emílio Pacheco se jogou no universo dos Ramil no seu livro de estreia. Autor de crônicas, o jornalista tinha anteriormente participado de três obras, 1973, o ano que reinventou a MPB e 1979, o ano que ressignificou a MPB, ambos com vários autores, e da coletânea de crônicas, Os dez miolados 2.
Fã da dupla, desde o surgimento do grupo Almôndegas, o biógrafo conta que algumas informações ele tinha amealhado por conta própria, mas ao longo de três anos muita coisa nova chegou. “Quando os Almôndegas lançaram o primeiro LP eu tinha 14 anos e, desde então, venho acompanhando tudo”, lembra.
Pesquisa iniciada em 2019
A pesquisa para o livro começou mesmo em 2019, quando uma das sobrinhas dos músicos, Chris Ramil, disponibilizou para o autor 13 pastas recheadas por um importante material gráfico, desde recortes de jornais, passando programas de shows e de festivais até matérias para revistas, entre outros, que a mãe da dupla, Dalva Ramil, havia juntado sobre os filhos. O material, claro, começava bem antes da fama nacional. “Eu passei dois fins de semana no Laranjal, examinando tudo isso”, conta.
Com a pandemia, a pesquisa foi ficando restrita a e-mails e whatsapp, mas não deixou de andar. Os próprios artistas se colocaram à disposição para responder perguntas do jornalista. Além destas fontes, Pacheco buscou informações com outros tantos atores do cenário musical desde a década de 70 até os anos 2000. “Entrevistei várias pessoas ligadas a eles, entrevistei os ex-Almôndegas, Ivan Lins, MPB4, o Bebeto Alves, que infelizmente já faleceu, e outras pessoas. Isso tudo somado forneceu a diversidade de fontes, que enriqueceu a biografia.”
A obra ficou pronta no dia 11 de novembro e foi diretamente para a Feira do Livro de Porto Alegre, sem sessão de autógrafos e em Pelotas esta é a primeira vez que a biografia é apresentada ao público. Sobre a receptividade dos leitores, Pacheco diz que tem recebido feedbacks positivos. “Alguns apontando erros, que inevitavelmente passaram, que estamos corrigindo com as novas tiragens. Mas tenho ficado bem satisfeito com a recepção que o livro está tendo.”
Revelações e detalhes
Apesar de ser fã, desde muito tempo, Pacheco disse que foi surpreendido por revelações pontuais feitas pelos músicos. “A gente acha que sabe tudo, mas não. Eu comecei a conversar e eles me contaram muitas coisas que eu não sabia ainda, que talvez até não fossem informações inéditas, mas eram inéditas para mim.”
Entre essas revelações o autor destaca detalhes do namoro de Kledir com a cantora carioca Nara Leão. “Não era segredo, mas no livro o namoro é contado com mais detalhes.” A biografia ainda passa pela separação da dupla em 1987 e o retorno em 1990. Pacheco detalha como e o porquê esses eventos aconteceram. “Algo que eu nunca vi na imprensa, com o nível de detalhes que coloco no livro.”
A obra ainda traz informações sobre como as músicas de sucesso foram feitas, reflexões sobre decisões que tomaram na carreira, algumas mais acertadas, outras nem tanto. “O diferencial do livro são os depoimentos exclusivos deles, eles me deram muitas informações da carreira toda, isso foi precioso”, comenta o autor.
Ao final da obra há uma série de imagens que ilustram momentos da carreira e da vida familiar dos músicos. A biografia está à venda no site da editora Bestiário (bestiario.com.br), na estante Virtual e na Amazon brasileira. Hoje à noite o livro estará à venda.
“Vai ter que fazer uma segunda parte.”
Em entrevista ao Diário Popular, pouco antes da sessão de autógrafos, os músicos falaram sobre a surpresa de se verem biografados. Brincando, Kledir Ramil comentou que quando soube da biografia achou cedo, porque tem muitos planos para o futuro. “Eu ainda pretendo fazer um monte de coisas mais. Ele vai ter que fazer uma segunda parte.”
Kleiton revela que gostou da ideia não só por ver a carreira da dupla retratada, mas também pelo registro de diferentes acontecimentos na área da música no Sul do país, como a própria história do grupo Almôndegas. “No centro do país, essa nossa banda que fez um importante trabalho nos anos 70 não tem o prestígio que mereceria. Nós conquistamos um espaço nacional, mas antes havia material suficiente pra isso (uma biografia). A biografia traz um pouco à tona isso tudo; vai mexer com muitas coisas.”
Relembrar fatos, alguns perdidos na memória, não foi um peso para Kleiton, pelo contrário o violinista disse que foi um exercício prazeroso. Sobre o trato que o jornalista deu aos fatos colocados pelos músicos, Kledir diz que o autor foi muito polido ao tocar em questões pessoais.
Vida na intimidade
Sem buscar o possível viés apelativo dos acontecimentos, Emílio Pacheco perpassa momentos da intimidade dos artistas de forma criteriosa. “Acho um biógrafo muito respeitoso não só em relação a nossa obra, mas a nossa vida pessoal. Eu sou um cara muito reservado, a minha vida pessoal eu não exponho em redes sociais, por exemplo. Mas uma biografia é um local adequado para que as pessoas que acompanham a nossa vida entendam um pouco mais quem somos na intimidade”, falou Kledir.
Os músicos dizem que pensavam em fazer algo semelhante a uma biografia, mas nunca tinham ido atrás disso. Segundo Kleiton, há um diretor de cinema interessado em fazer uma cinebiografia, mas esta história não andou. “A nossa vida é pública desde que tínhamos vinte e pouco anos, mas a gente sempre procurou se concentrar na nossa vida profissional, então o livro pode ser interessante para quem acompanha quem tem curiosidade de saber mais coisas, já que somos irmãos; como tudo começou com detalhes.”
Na obra, por exemplo, os músicos relembram que não tinham dinheiro para comprar guitarras, violões, então faziam os próprios instrumentos musicais na marcenaria do avô. Kleiton gostava de mexer em aparelhos eletrônicos e inventava uns captadores elétricos. “De certa forma essa parte mais íntima da nossa vida é interessante até para as pessoas perceberem que dinheiro não é tudo. Claro que é necessário, ajuda e é bom, todo mundo precisa, mas a falta de algumas coisas foi útil, porque a gente tinha que correr atrás, tinha que fazer, inventar e esse processo criativo foi muito importante para a nossa vida”, disse Kleiton.
Ao serem questionados sobre possíveis mudanças que fariam nas trajetórias, se pudessem, os músicos disseram que esta é uma questão difícil de responder. “Desde o começo fizemos de forma muito espontânea, eu e o Kleiton fomos para Porto Alegre para sermos engenheiros. Chegamos lá em 1970, sete anos depois a gente estava dentro de um Kombi indo para o Rio de Janeiro e tinhamos virado artista. Fizemos engenharia, mas fizemos composição e regência também. As coisas foram acontecendo.”
Segundo a dupla, claro que as reflexões aconteceram, mas depois que as atitudes foram tomadas. Atualmente, por exemplo, eles estão produzindo um disco com inéditas para 2024. “Um disco muito pensando, refletido, sempre a partir de referências passadas, o que fizemos, qual o nosso papel nessa história toda”, falou Kledir. “Foi muito lindo a gente ter feito esse encontro com os Almôndegas, quase 50 anos depois a gente fez duas noites com teatros lotados, as pessoas cantando emocionadas músicas que fizemos há 50 anos. Isso é muito forte, não só pra nós, para toda uma geração”, completou.
Kleiton diz que o amor pela música é o que move as atitudes, mas nem sempre eles conseguiram o esperado. “A gente tenta fazer coisas que idealizamos.”
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